Se seguir a estrada de terra que parte de Pentecoste, passa
por Capivara e Cipó rumo a Irapuá e outras comunidades rurais, o viajante chega
a uma bifurcação marcada com um abrigo de ônibus. Ali, passa a linha com destino
a Maranguape, mas a parada, oficialmente demarcada pela proteção de concreto,
só povoa-se com vento e poeira. O local parece ter a sina de representar
escolhas de destinos. Quem anda por aquelas bandas, pode optar em parar e,
protegido do sol, esperar o ônibus rumo a serra de Maranguape. Ou, pode ainda,
insistir e percorrer um dos possíveis caminhos. As escolhas são múltiplas e continuar
por uma das duas direções, apontadas pelas estradas de barro vermelho, multiplica
os lugares de chegada. Em julho, o Memorial do PRECE escolheu a estrada à
esquerda e aportou com a exposição “PRECE: 20 anos de protagonismo, cooperação e
solidariedade” em Boa Vista. Quinze dias depois, voltou ao ponto de decisão (a destoante
e concreta parada de ônibus) e rumou a caminho de Providência, sede do distrito
de Matias, em Pentecoste. Na noite de sexta-feira (31), apesar do adiantado da hora, a chegada
da equipe não passou despercebida: janelas abriram-se e cabeças emergiram no silêncio
da praça. Sem muita demora, timidamente, um ou outro morador aproximou-se e,
entre trocas de informações, surgiram os primeiros diálogos.
Entrada de Providência, sede do distrito de Matias |
Sábado (01) à noite, a abertura da mostra, aconteceu no mesmo
horário da missa e do culto. Como sede do distrito, a localidade possui o
privilégio de ter missas e cultos todas as semanas. Mesmo com as portas
abertas, a Escola Popular Cooperativa (EPC) Providência não era o destino do
movimento nas ruas àquela noite. Como de costume, as igrejas lotaram-se e a
rotina obedeceu a sua ordem. A exposição não ficou à deriva, aos poucos,
precistas com seus familiares e moradores, que aceitaram, naquela noite, não
cumprir os ritos religiosos, circulavam entre as fotografias, banners e outros
objetos. A roda de conversa, que compõe o ritual de abertura da mostra, seguiu
com o diálogo sobre a importância de estar em coletivo.
Roda de discussão |
Integrante do primeiro grupo do PRECE na comunidade, a
precista Gardênia Macedo, professora e estudante de pedagogia, percebe a
exposição como um momento de contar a história do PRECE e da EPC para os novos
estudantes, mas também, como um momento dos mais antigos repensarem sobre as
suas atuações. No início, as reuniões aconteciam no salão paroquial da igreja e
era preciso ir até Cipó para estudar. Com o tempo, o grupo fortaleceu-se e construíram
a EPC Providência. Gardênia diz ser raros os momentos dedicados a
compartilhar essa memória. Vitória Régia, 17 anos, estudante do 3º ano do
ensino médio, quando criança, participou do projeto Estudante Cooperativo, mas
diz que desconhecia, até aquele sábado, a história e a forma do PRECE se
organizar. Colaboradora da montagem da exposição, Vitória levou a amiga
Leudiane, 16, estudante do 1º ano do ensino médio, para conhecer àquela
história. A estudante conta que nunca participou de nenhuma atividade do PRECE,
mas diz perceber ali uma forma de conquistar o sonho de continuar com seus
estudos.
As estudantes Leudiane e Vitória |
Hoje, a EPC Providência está sem célula de estudos ativa. Flávio Martins, precista que busca ingressar em uma universidade pública, tem o
auxílio da célula de estudos da EPC Cipó. Flávio
iniciará uma escolinha de futebol como meio de mobilizar novos estudantes para
a EPC, busca inspiração no início da história e da prática precista, que
teve como aliadas as escolinhas de futebol. Carla Firmiano, precista e estudante de
direito, acredita que o memorial faz um resgate de uma parte da história da
própria comunidade. “É interessante quando você vê a história do outro, de pessoas
que você conhece. Nossa história é fruto das histórias de outros, esse prédio,
as atividades desenvolvidas aqui são frutos do trabalho coletivo do PRECE”.
Confira um trecho da conversa com a Carla:
A exposição "PRECE 20 anos" ficará até sexta-feira (07), em
Providência.
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