Na terça-feira, 30, por
volta das 7h, os estudantes Arineto, Marcirlanni e Laura chegavam à Escola
Estadual de Educação Profissional (EEEP) Alan Pinho Tabosa. Naquela manhã, a
rotina não seguiria o seu curso. Os três estudantes tinham, junto com outros
colegas, a tarefa de apresentarem o cotidiano vivenciado naquela escola nos
últimos 4 anos. Em 21 de junho de 2011, Pentecoste, município cearense,
inaugurava a sua primeira escola profissional, que tem em sua gestão uma
parceria entre a Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC) e a Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Maurício Holanda, Secretário da Educação do Ceará, e o reitor Henry Campos acompanham à apresentação dos estudantes |
O Secretário da
Educação do Ceará, Maurício Holanda Maia, o reitor da UFC, Henry Campos e suas
comitivas visitaram as dependências da escola, onde, nas salas de aulas, foram
apresentados à metodologia, empregada para o ensino e aprendizagem, e aos
projetos desenvolvidos pelos docentes e os estudantes. Divididos em grupos, os
estudantes falaram sobre o cotidiano das aulas, nas quais, agrupados em
“células de estudos”, realizam atividades orientadas pela metodologia da
Aprendizagem Cooperativa (A.C.), empregada pelos docentes.
A estudante Marcirlanni Pontes (primeira à esquerda) apresenta, com colegas, a metodologia |
Questionados sobre a experiência
com a A.C., os estudantes contaram as suas vivências com a metodologia dentro
e fora da sala de aula. “Simplesmente falamos a nossa vivência, o nosso
dia-a-dia, o que, todos os dias, acontece”, esclarece Marcirlanni Pontes, 16,
estudante do 3º ano acadêmico. Moradora de Jucá, zona rural do município, a
estudante relaciona a sua formação escolar com a sua participação em espaços de
mobilização da comunidade: “Lá, na nossa comunidade, às vezes, reunimos todo
mundo para discutir algum problema, principalmente agora com a falta d’água, e
eu sou uma das que mais fala. A escola ajudou no meu desenvolvimento”, conta
satisfeita ao associar a autonomia desenvolvida com o auxílio das práticas da
escola com a sua atuação na localidade onde vive.
O estudante Arineto
Costa, do 3º ano de informática, contou sobre como conheceu a A. C. antes de
ser estudante da escola:
A
Aprendizagem Cooperativa (A.C.), o PRECE e a UFC
Utilizada como
metodologia da EEEP de Pentecoste, a A. C. foi elaborada a partir da
experiência vivenciada pelo Programa de Educação em Células Cooperativas
(PRECE), criado em 1994, em Cipó, comunidade rural de Pentecoste. Sete
estudantes, em situação escolar irregular, foram viver de forma comunitária em
uma casa de fazer farinha desativada, com o intuito de estudarem para
ingressarem em uma universidade pública. Empiricamente, de acordo com as
dificuldades encontradas na rotina de estudos, desenvolveram um método baseado
no auxílio mútuo, na atitude cooperativa e solidária. Com o ingresso
progressivo desses estudantes na UFC, a metodologia chegou à universidade.
No espaço acadêmico
formal, foram reconhecidas semelhanças do método dos estudantes de Cipó com a
metodologia desenvolvida pelos irmãos David W. e Roger T. Johnson. A união
entre a prática cearense e a teoria dos irmãos Johnson possibilitou a
elaboração do método empregado pela SEDUC e a UFC na EEEP Alan Pinho Tabosa,
nas turmas de Agroindústria, Informática, Aquicultura e Acadêmica.
Projetos desenvolvidos
pela escola
Fora da sala de aula,
os estudantes participam de projetos que auxiliam o progresso do aprendizado e
a prática cooperativa. Laura Sales, 17, estudante do 3º ano acadêmico,
compartilhou a sua experiência com o projeto “Revisores Solidários”, no qual
estuda atualidades e os critérios usados na correção da redação do ENEM. Os
participantes do projeto auxiliam no processo de correção dos textos de
colegas. A prática permite aos estudantes colaborarem com o projeto “Letras
Solidárias”, que constrói uma rede de revisores espalhados pelo mundo. No
próximo semestre o Revisores Solidários, sob orientação da professora Catarina
Matos, irá ser aplicado nas escolas Etelvina Gomes Bezerra e Tabelião José
Ribeiro Guimarães. Para Laura, a busca por uma educação de qualidade deve
ultrapassar os murros da escola. “Ver alguém pedindo ajuda e poder colaborar é
muito importante para a gente”, explica a estudante.
Ao lado de projetos
como o “Promotores de Leitura”, que estimula a leitura e a troca de livros
entre os estudantes, e o “Produção textual básica e atualidades”, que discute
atualidades para a produção de textos dissertativos, a escola desenvolve ações
comunitárias em parceria com o PRECE. Os núcleos do PRECE são as Escolas
Populares Cooperativas (EPCs). A EPC Pentecoste, em parceria com a escola
profissional, desenvolve o projeto Estudante Cooperativo I e III. O primeiro é
destinado a crianças do ensino fundamental I, o último a estudantes do 8º e 9º
ano. O Estudante Cooperativo II está planejado para atender crianças do 5º e 6º
ano, em breve. Os estudantes Letícia Galvão e Willian Araújo, facilitadores do
projeto, apresentaram às comitivas o Walysson e o João Vitor, que explicaram
sobre o Projeto:
Curso de Liderança
Cooperativa e Solidária
Após conhecer a
metodologia e os projetos desenvolvidos pela escola, as comitivas participaram da
cerimônia de entrega de certificados do curso de Liderança Cooperativa e
Solidária. Os alunos participam das aulas organizados em células de estudos. Em
uma turma com 45 alunos, são 15 células, cada uma com três estudantes divididos
com funções específicas que se alternam ao fim de cada ciclo de ensino
(semestre). Um desses alunos tem a função de facilitar a aplicação das
atividades, um auxiliar direto do professor, chamado de coordenador de célula.
Esse grupo funciona de acordo com as aplicações metodológicas da A.C., o que os
torna “células de estudo”, onde cada membro exerce uma função vital para o
êxito das tarefas, a falha de um compromete a meta coletiva, o que torna
necessária a ajuda mútua para o bom funcionamento da célula.
A psicóloga Laís Leite apresenta o curso de Liderança Cooperativa e Solidária |
O curso de Liderança
Cooperativa e Solidária foi elaborado e aplicado neste semestre, com duração de
dois meses. Anteriormente, era aplicado um curso de formação de coordenadores
de células, com duração de uma semana. A psicóloga Laís Leite, responsável pela
oficina de comunicação não verbal (ou linguagem corporal) explica que a
metodologia é estruturada para naturalizar a prática da cooperação. A estrutura
leva ao desenvolvimento de competências subjetivas. Laís defende que há
melhores rendimentos acadêmicos quando a metodologia atrela o desenvolvimento
de clima emocional positivo à preocupação com o desenvolvimento cognitivo. Essa
metodologia promoveria o amadurecimento de competências sociais. “Resultados
estatísticos mostram que desenvolver uma [competência] ajuda a desenvolver a
outra”, contextualiza Laís ao explicar o funcionamento da A. C..
O professor de
história, Magelo Braga, explica que o curso de Liderança Cooperativa e Solidária
é uma forma de auxiliar os alunos a compreenderem o funcionamento do método
usado em sala. Destinado a alunos que atuam como coordenadores de células, o
curso pretende estimular o questionamento e o aperfeiçoamento da prática. “No
próximo semestre, uma nova turma de coordenadores de células fará o curso, a
ideia é que a função e a formação sejam rotativas”, contextualiza Magelo.
Cerimônia
Na quadra, os
visitantes participaram da cerimônia de entrega de certificados do Curso de
Liderança Cooperativa e Solidária. Os estudantes realizaram apresentações
artísticas e receberam os certificados das mãos de amigos e professores. À mesa,
estavam presentes a prefeita Ivoneide Moura, políticos locais e professores de
escolas vizinhas e da CREDE. A Professora Maria Otília Nunes, amiga da EEEP Alan
Pinho Tabosa, estava na plateia junto aos estudantes. O reitor, Henry Campos, e
o vice-reitor Custódio Almeida estavam ao lado do Secretário de Educação,
Maurício Holanda Maia e de Eudoro Santana.
Grupo reunido após a cerimônia |
A metodologia da escola
Alan Pinho é elaborada e aplicada em parceria com a UFC. O reitor, Henry Campos,
defende a troca de saberes entre os diferentes níveis de formação como
indispensável. “Aqui nós encontramos a práxis de todos os sete saberes da
educação, a educação libertadora de Paulo Freire, a pedagogia da autonomia... É
uma coisa belíssima, você vê as pessoas transformadas. São meninos adultos, com
histórias de vidas já transformadas e preocupados em transformar a história de
vida dos outros. Isso é extraordinário”, afirmou o reitor ao compartilhar suas
impressões.
Henry Campos, reitor da UFC |
O Secretário da Educação destacou a importância da experiência da EEEP Alan Pinho Tabosa para o
aperfeiçoamento da qualidade educacional:
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