Por Orismar Barroso
O PRECE surgiu em 1994, iniciava-se aí a saga de um movimento constituído por estudantes de origem popular na pequena e calma comunidade rural de Cipó em Pentecoste, Ceará, na época, o grupo era considerado por muitos como algo não convencional, desacreditado. A iniciativa atraia a cada dia, mais e mais estudantes que ingressavam na universidade e graduavam-se, o que viria a se transformar numa das maiores experiências de protagonismo estudantil do Brasil, alicerçada na cooperação e na solidariedade.
O PRECE surgiu em 1994, iniciava-se aí a saga de um movimento constituído por estudantes de origem popular na pequena e calma comunidade rural de Cipó em Pentecoste, Ceará, na época, o grupo era considerado por muitos como algo não convencional, desacreditado. A iniciativa atraia a cada dia, mais e mais estudantes que ingressavam na universidade e graduavam-se, o que viria a se transformar numa das maiores experiências de protagonismo estudantil do Brasil, alicerçada na cooperação e na solidariedade.
Algo diferente e contagiante passou a acontecer, esses jovens sentiam o
desejo de retornar às suas comunidades e contribuir com outros estudantes que
também almejavam prosseguir nos estudos. Entre o sentimento de cooperar com
quem ficava, existia mais de cem quilômetros, distribuídos em veredas, CEs e
estradas carroçáveis, então, surgiu a necessidade de haver um transporte para
intermediar e dar celeridade à vontade de ser solidário. Havia realmente,
paixão no regresso dessas pessoas, mesmo quando o transporte, por diversas
vezes, não ia até o fim do itinerário, mesmo assim, eles não desertavam.
Com ânimo seguiam “de pé” enfrentando o lamaçal das estradas
carroçáveis, a travessia das águas impetuosas dos riachos e rios, noites a fio,
impulsionados pelo senso de solidariedade. Essa rotina se repete há quase duas
décadas, de segunda a sexta, os já graduados se desdobram em seus afazeres, buscando
tempo para manter-se retornando, os universitários, envolvidos com aulas e
trabalhos da faculdade também. O fato, é que na sexta à noite, é hora de se
arrumar, mochila nas costas, pastas debaixo do braço, chega a hora de partir,
na certeza ou não, do meio de condução. Porém, com disposição seguem, como
guiados por uma asserção irrefutável, rumo a suas comunidades e parafraseando o
poema do professor Manoel Andrade, eles sentem que é mais um final de semana,
para fazer a diferença, onde “mutuamente irão dividir, somar e multiplicar, na
estratégia de compartilhar e aprender em cooperação”.
Sábado pela manhã, lá estão eles, espalhados de pelas treze associações
estudantis que são as Escolas Populares Cooperativas (EPCs): de Pentecoste a
Paramoti, de Umirim a Apuiarés, configurando assim, a rede PRECE. Contudo, o
retorno desses protagonistas foi sempre permeado pelo empecilho do transporte,
em alguns momentos tinha, às vezes não, um fato que torturava o senso de
cooperação dessa gente que se esmeravam para ir desenvolver suas atividades. A locomoção desses estudantes, num primeiro momento entre 1994 e meados de 2000, foi garantida pelo mentor professor Manoel Andrade Neto que disponibilizava seu veículo particular para transportar os alunos do sertão para cidade e da cidade para o sertão.
A partir de 2002, foi adquirido uma
combe para ajudar no processo, logo depois junto das parcerias e dos apoios, um
ônibus era alugado para levar os universitários. Segundo o graduando de
engenharia de pesca e precista Hélio Pires, “retornar foi por muito tempo na
realidade dos precistas o grande desafio, descrito por experiências de
aventuras, desgastes e incertezas, no entanto, fundamental na medida em que o retorno
era e é, o que faz o trabalho acontecer efetivamente nas EPCs. Além do mais, mantém
vivo o estímulo, o elo dos graduados e universitários com os estudantes,
atitudes essas que fazem toda a diferença na manutenção do trabalho.”
Em 2007, os universitários pentecostenses recorreram um transporte
junto à prefeitura de Pentecoste que disponibilizou um ônibus para o grupo. O
que parecia ser a resolução passou gerar alguns transtornos, já que o
transporte cedido faltava frequentemente, muitas vezes não levava até o final
do percurso, assim, os alunos ficavam distantes de suas comunidades, tarde da
noite, tendo que fazer o resto do destino a pé. Consequentemente, isso gerava
cansaço e atrapalhava as atividades dos universitários nas comunidades. Em meio
a tudo isso, o transporte concedido pela prefeitura deixou de prestar o
serviço.
A partir de 2009, o retorno dos universitários ganhou o apoio da Secretaria
de Educação do Estado do Ceará (SEDUC) que concedeu dois microônibus,
contribuindo decisivamente com as vindas a Fortaleza e o regresso dos
estudantes ao sertão. Hoje, segundo o estudante de agronomia Paulo Gleisson “ocorreu
uma mudança considerável, primeiro pela certeza da disponibilidade do
transporte, outro ponto importante é o conforto e a segurança, já que a viagem
ficou menos enfadonha”. O transporte garante o regresso de todos aqueles que
querem cooperar com suas EPCs e há acesso junto à SEDUC que permite flexibilidade
e negociação, onde os próprios estudantes administram os horários de saída dos
veículos. Paulo ressalta ainda a satisfação e a alegria dos pais em ver o carro
passando na porta e trazendo seus filhos para a universidade.
No final de 2012, a SEDUC disponibilizou mais um carro para levar os
universitários desta vez para o município de Paramoti e a comunidade de Muquém,
Pentecoste. Até aqui prevaleceu e se notabilizou a força da solidariedade, da
cooperação, onde juntos estudantes ganharam autonomia, ultrapassaram a linha da
incredulidade, do comodismo, venceram o medo e ganharam apoiadores.
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