segunda-feira, 1 de abril de 2013

0

De casa de farinha à espaço de cooperação

Por Orismar Barroso

A casa de farinha foi uma aquisição, após muito esforço da Associação Comunitária dos Moradores e Pequenos Agricultores Rurais das comunidades Cipó e Capivara (ACOMPARCC) no início da década de 1990, tendo a frente Adriano Sergio Andrade. Foi inaugurada oficialmente, em 17 de novembro de 1991, em clima de muita alegria por parte das famílias residentes em Cipó (Pentecoste/CE) e moradores das comunidades adjacentes, contando ainda, com a presença de autoridades políticas, inclusive, com a da primeira dama do estado Patrícia Saboya. 

O equipamento fora construído com o propósito de beneficiar os produtores de mandioca da região, no processo de fazer farinha. Contudo, a cultura de mandioca teve um declínio, nos anos sequentes e acabou ficando subutilizada. Em 1994, a casa de fazer farinha ganhou novo sentido para a região e para as pessoas que dela usufruíam. A partir do primeiro semestre daquele ano, o espaço foi utilizado na realização do curso de datilografia, onde foram formadas várias turmas com jovens das comunidades vizinhas.  

Posteriormente, em outubro, de 1994, a estrutura é aproveitada por um grupo de sete estudantes, que motivados e ajudados pelo professor da Universidade Federal do Ceará, Manoel Andrade Neto, passaram a estudar algumas horas noturnas à luz de lamparinas. No mesmo ano, o grupo resolveu intensificar os estudos e passou a estudar também durante o dia no espaço onde, consequentemente, passaram a morar, tornando-se então, residência para cinco dos sete estudantes que eram de comunidades distantes. 

Os sete estudantes tiveram que adaptar-se a ambiência da casa de farinha que continha em seu interior sete tanques, uma prensa grande, máquinas, algumas bases de concreto, forno, piso de tijolo já deteriorados e, outros itens, típico de um espaço para produzir farinha. 

A partir de 2002, o espaço passa por um processo de transformação e recebe alterações em seu formato original, quando é construída um pequeno auditório, quartos, banheiros e cozinha, objetivando acomodar os estudantes de origem popular que vinham de localidades distantes e aderiam ao movimento estudantil com atividades centradas na casa de farinha. 

Nesse contexto, a casa de farinha, já havia saído da condição de desativada para uma efervescência estudantil, configurada no protagonismo, na cooperação, na solidariedade: já, como um espaço que havia avançado no tempo, aliado às necessidades, aos anseios e sonhos de centenas de estudantes. É nesta perspectiva que em 2006, a tão ilustre e emblemática casa de farinha ganha o anexo, ao lado, um auditório para estudantes ou mesmo um Estudantório chamado de Sombra do Juazeiro.

Uma casa que evoluiu, adaptou-se, agregou, onde se descaracterizou de seu intuito principal e, fundiu-se a novas ideias para contribuir com outra opção, com outro processo, não mais no de fazer farinha, agora, em outra cultura, com base na educação. Parafraseando, o então, líder comunitário Adriano Sergio Andrade que em seu discurso de inauguração citava a casa que outrora era recebida com festa, com prenúncio de um futuro de trabalho e dedicação, em prol de melhores condições vida para seu povo. 

Hoje, realmente, as celebrações continuam o trabalho e a dedicação também, a partir de pessoas, que nela habitam ou habitaram, onde em seu interior desenvolvem de forma mútua a capacidade de resiliência, de aprender em cooperação. A casa de farinha, o lugar onde metas são projetadas conjuntamente, sonhos sociabilizados, conhecimentos divididos, histórias de vidas compartilhadas, abraçadas a experiência da aprendizagem cooperativa. A casa de farinha, hoje, a casa do protagonismo, da cooperação e da solidariedade.

segunda-feira, abril 01, 2013

0 comentários:

Postar um comentário