À direita, o matadouro municipal; à esquerda, uma estrada
carroçal com destino a comunidades rurais, entre elas, Ferrão, Pedra Branca,
Cacimbinha e Miguá Terra. Mesmo na boleia do pau-de-arara, o sol fadiga e a
poeira sufoca. A paisagem é bonita, os vilarejos possuem ar nostálgico e, entre
o amarronzado da paisagem, se depara, de repente, com um amarelado intenso de
um pé de planta florido. No Ferrão, Seu Chico Avelino está de prontidão para
receber as visitas, um sorriso e um conselho é dado de graça, “trate bem aos
seus pais”. Mais à frente se chega à Miguá. No alto de um amontoado de barro
está a escola municipal da comunidade, desativada há dois anos, abriga a Escola
Popular Cooperativa (EPC) Miguá Terra.
Pôr do sol em Miguá |
A exposição itinerante PRECE: 20 anos de protagonismo,
cooperação e solidariedade chega ao fim, no mês de comemoração dos 21 anos do
PRECE. A EPC Miguá Terra recebe a última montagem desta mostra. Criada em
2009, a escola popular conquistou sua vitória mais recente com o vestibular 2015.2
da Universidade Estadual do Ceará (UECE), a precista Aldenora Castro foi
aprovada para o curso de geografia. A comunidade acolhe a exposição como parte
da comemoração. Na noite de sábado (10), o prédio que costuma ficar escuro, se
iluminou. Em frete a um lençol branco, algumas dezenas de moradores
compartilharam o filme “O Preço do Amanhã,” abertura do projeto Cine Pipocando.
“Esse negócio de filme não é para mim”, confessa Seu Aloízio que prefere ficar
no pátio para prosear. “Amanhã venho para o café, liguei hoje para o compadre
Zé Alfredo e ele disse que vai vir para comer do bolo que doei”, deixa avisado.
Cine Pipocando |
Na manhã de domingo (11), quem chegava ao prédio se deparava
com uma mesa farta, frutas, bolos e tapiocas de todos os jeitos. O café da
manhã comunitário marcaria a abertura da última instalação da exposição PRECE
20 anos. Antes do café, houve a conversa. Reunidos em círculo, os moradores
compartilharam as histórias vividas em torno do PRECE. Seu Aloízio contou sobre
a ida do seu Compadre Zé Alfredo para estudar “lá no Arãozinho”, se refere a
Cipó, onde vive a família do Seu Arão Andrade. Zé Alfredo, precista da EPC Boa
Vista e engenheiro agrônomo, foi provar do bolo do compadre e contar as histórias
vivenciadas com os estudantes da EPC Miguá. Mais duas EPCs enviaram
representantes, de Cipó estava o Vanklane, precista também engenheiro agrônomo;
de Pentecoste apareceu o Tony Ramos, professor da escola profissionalizante do município.
Café da manhã comunitário |
Os pais da precista Maria Juliana moram atrás da escola
municipal desativada. Moradora de Miguá, ela ouviu, em 2004, que havia um
grupos de estudantes a viver em uma casa de farinha desativada e a estudar de baixo de um pé
de juazeiro. Chamou duas amigas e foi atrás de saber se aquilo era verdade.
Estudou no Cipó durante um semestre, no ano seguinte, juntou mais quatro amigos
e foram para Boa Vista, uma comunidade mais próxima. Ali, Seu Zé
Alfredo liderava um grupo que estudava em barracas improvisadas, o PRECE se
multiplicava. 4 anos mais tarde, Juliana, Gláubia, Nívea, Wesley e Weverton
levaram o PRECE para o Miguá. Professora de Biologia da Escola Estadual de
Educação Profissionalizante de Pentecoste, Juliana acredita que a exposição
itinerante ajuda a comunidade a compreender que aquela história não acontece
apenas ali, mas que é muito maior.
Aldenora com a mãe, Dona Maria Luíza |
Aldenora conta que
cresceu como pessoa junto com a EPC. A timidez já não aparece como uma
barreira; do envolvimento com o grupo de estudo, a mais recente universitária,
passou a atuar na associação e na igreja. Aldenora se constrói na vivência em
comunidade. Dona Maria Luíza, a mãe de Aldenora, não cansa de afirmar o orgulho
da caçula de dez filhos. A companhia da filha não será mais tão constante, agora, só
aos fins de semana, mas afirma ser preciso lidar com a saudade e com a
apreensão da filha sozinha na capital. A aposentada trabalhou 20 anos na antiga
escola municipal, aquele espaço sempre esteve presente na vida da família. Por
duas décadas, foi onde Dona Maria colheu parte do sustento da família. Ali, Aldenora conquistou o direito de crer em si mesma.
Espaço de fotos da EPC Miguá |
A exposição PRECE 20
anos fica até dia 17/10, na EPC Miguá Terra.
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